quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Belém (s)...águas, becos e portais....

FOTO:by Faustino Alves - Belém-Pa/2009







...cidade e seus becos estreitos sempre levam ao mundo das águas.....Belém de Tupinambás.....quantas cidades ocultas......em teus portais de Portugal..... amores e maresias......um dia teremos um mundo de flores e não somente dores.....(texto assaltado de email enviado a Faustino Alves)

Pavulagem: 21 anos de folia


fots Sueanny Alcântara
Texto Rogério Almeida
Um guarnicê (reunião) para pôr mais lenha na fogueira do caldeirão da cultura popular amazônica. Diz a lenda que assim germinou há 21 anos na cidade de Belém, capital do Pará, o grupo Arraial do Pavulagem. Na cabeça dos artistas locais a formação de público constava no horizonte. Na cidade quase ilha, a Praça da República serviu-lhe de berço.

O logradouro é um dos pingentes dos áureos dias do ciclo da borracha. É a praça que abriga o festejado Teatro da Paz. É na praça que todos os domingos ricos, remediados e pobres de todos os tons se cruzam. Há vendedores/as de tudo que é coisa: artesanato, obras de arte, relíquias, comidas regionais, livros, instrumentos musicais e outros badulaques. Músicos à margem e outros nem tanto fazem som.

Em alguns domingos do mês de junho barricas, matracas, maracais, alfaias, metais embalam o cordão do grupo Pavulagem. Uma referência ao pavão. A tradução indica tratar de um fanfarrão, aquele que gosta de aparecer. Se no Nordeste é o manto negro da noite que serve de cenário das celebrações da quadra junina, em Belém, os arrastões do grupo ocorrem sob o sol de 40 º. Chapéu de palha enfeitado por fitas coloridas socorre do calor.

Negro, índio e caboclo são a matriz de toadas, lundus, carimbós, ladainhas, que tem no universo rural a raiz. Num mundo de água, sob o olhar da baía do Guajará, o cordão de brincantes faz o aquecimento. Idosos, adultos e crianças engrossam o coro que ultrapassa a casa de 10 mil. As mangueiras, algumas seculares, da Av. Presidente Vargas testemunham a marcha da brincadeira. Vendedores de água e cerveja acodem os participantes.

“Já pedi até a lua pra tentar te convencer. Mas acabei namorando a lua. Só não namorei você”. Canções de amor integram o repertório que homenageia São João, São Pedro e São Marçal. Uma outra celebra um boi da lua. “Mamãe eu vi boi-da-lua dançar no planeta do Brasil”.

A toada explica que o festejo é uma promessa. “Meu São João, vim pagar a promessa. Trazer esse boizinho pra alegrar sua festa. Olhos de papel de seda. E uma estrela da testa”. César Teixeira, poeta maranhense assina a canção. Pavulagem e Teixeira se conhecem apenas por versos.

No período de momo o boi vira bloco de carnaval. E a rua ganha o Cordão do Peixe Boi. Gerido no bioma amazônico nada mais justificável. O adereço é o próprio mamífero ameaçado de extinção. Integrar a brincadeira é fácil. Basta comparecer ao local de ensaio e mostrar habilidades de dança ou percussão. Ou caso contrário simplesmente engrossar o coro dos informais.
Ronaldo Silva e Júnior Soares são os timoneiros da brincadeira. Em 2003 formalizaram o grupo com vistas a captação de recursos. Assim nasceu o Instituto Pavualgem. A janela para o mundo foi aberta através da página na rede mundial de computadores. A militância cultural ultrapassa os limites de shows e dos arrastões junino e momesco.

Pesquisa e participação em debates sobre cultura popular integram a agenda do grupo. Com o apoio de bolsa do Instituto de Artes do Pará (IAP), o coletivo mergulhou no universo marajoara e produziu CD duplo sobre a folia de São Sebastião das ilhas do Marajó. Assim mesmo no plural, como a gente que dá vida ao grupo.

Belém: tradição e polêmicas do mercado informal



por Yasmim Uchôa

A informalidade faz parte da paisagem de grandes e médias cidades. Quem vive em Belém, ou visita a cidade pela primeira vez não consegue deixar de notar o grande comércio informal que inunda as ruas.


Gerada nos braços da grande feira do Ver -o- Peso a cidade tem sua história marcada pela força cultural e econômica das feiras livres e mercados municipais.


70% dos empregos na capital paraense estão na informalidade, informa o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese). O Departamento calcula que o índice representa 6.500 mil pessoas.


Esses trabalhadores concentram-se em maior escala no bairro comercial de Belém, no qual o Dieese aponta mais de 2 mil ambulantes que movimentam R$ 1,2 milhão mensalmente.


Mas em Belém ser “camelô” é mais que uma forma de ganhar o sustento. É uma questão sócio-cultural. O trabalho já se projetou como herança familiar, e passa de geração a geração. No centro da cidade há registros de famílias ambulantes desde 1940.


Porém, apesar da tradição e cultura o assunto não deixa de ser polêmico. É comum presenciar conflitos entre os setores públicos e os trabalhadores, que por não serem regulamentados criam entraves, tanto aos comerciantes legais, quanto à população em geral.


Existem registros de confrontos desde os projetos de urbanização de Belém no Governo de Antonio Lemos, no começo do século XX. Lemos foi o prefeito responsável pela urbanização da primeira cidade brasileira com luz elétrica (Belém). Ele instituiu o código de postura que vetava, entre outras coisas, a presença de ambulantes em vias públicas. A alegação era a grande produção de “sujeira” na cidade.


Desde o código de posturas de Lemos, até o governo de hoje, os motivos para esses conflitos foram só revistos e renovados.


Nas gestões atuais foram feitas várias tentativas de reordenação desses trabalhadores. Um expediente foi a criação de shoppings populares, a exemplo o Espaço Usina localizado no bairro do Reduto. Hoje sem atividade, fechado para reavaliação da Secretaria Municipal de Economia (Secon).


Porém, a falta de sintonia dos projetos com as necessidades e a quantidade desses trabalhadores promove um embate cada vez maior. No mês passado a Secretaria Municipal de Economia ordenou a retirada dos Ambulantes da Tv. Padre Eutíquio, na justificativa de que eles não estariam cumprindo o acordo para reordenamento das barracas no local.


Após o incidente foram abertos novamente fóruns de debate entre a Secretaria e a Associação de Ambulantes do Comércio para “resolver” a questão.


Enquanto as políticas públicas voltadas à regularização e ordenamento urbano não vingam, resta um passeio pelo bairro do comércio para conferir as novidades das bancas e aproveitar para barganhar e economizar nas compras do natal que se aproxima.

Círio de Nazaré: o natal de Belém

FOTO: by Yasmim Uchôa-Belém-PA, Círio de 2009
por Isis Monteiro

O natal em Belém do Pará é comemorado em outubro. No segundo domingo, quando pessoas dos mais variados cantos do mundo e do país celebram a fé e esperança em Nossa Senhora de Nazaré. A santa é a padroeira do estado. Uma festa de várias faces: religiosa, cultural e da economia.

Na quadra nazarena o ar da cidade se enche de solidariedade. É tempo de perdoar, visitar as pessoas amigas. É um momento de aproximação com os parentes e amigos distantes, sob o olhar do “menino Deus”.

As pessoas vêm de longe para passar o Círio na casa de amigos e/ou parentes. Todos buscam os supermercados para a compra da “ceia do Círio”. Ceia mesmo! Mas, com um cardápio tipicamente paraense, onde o pato no tucupi e a maniçoba são das estrelas.


Onde fica a religiosidade nisso tudo? Fica nas missas que ocorrem na Basílica de Nazaré, nas novenas que acontecem semanas antes do Círio, na emoção que as pessoas sentem na simples passagem da santa pelas ruas.


Enfim, na representação que a imagem tem na vida de cada um. Sentimento que é vivenciado de forma bem intensa nas demonstrações de superação da dor, tudo em agradecimento à Virgem.

Quer seja na corda, que puxa a berlinda e junto com ela a esperança de uma vida melhor; quer seja nos bonecos de cera, nas maquetes de casas, símbolos de conquistas atribuídas à Nossa Senhora.


Há ainda romeiros que andam quilômetros noite a dentro. Somente para amanhecer no dia da celebração e outros que resolvem “pagar” o agradecimento indo de joelhos até o destino final da imagem.