segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Belém a um pulo para a Europa.

Por Yasmim Uchôa e Fátima Baia

No século XIX Belém passou por uma reestruturação paisagística caracterizada na arquitetura e na infra-estrutura. O período ficou conhecido como belle epoque. Tal remodelagem ocorreu durante o ciclo da borracha, 1850 a 1910.

No final do século XIX era fácil encontrar filhas de nobres belenenses encomendando de Paris cortes de tecidos finos. Foi o momento de desenvolvimento vertiginoso de nossa economia e cultura.

Prédios, igrejas e monumentos de vários estilos foram projetados para remeter a realidade européia daquela época. O Neoclássico e o Art Nouveau predominam em nossa paisagem urbana até hoje. O propósito da elite local era criar um semblante parisiense na cidade tropical.

O segundo estilo com maior força artística na cidade serve de inspiração para os famosos coretos de ferro e até para um palacete luxuoso no centro da cidade, o Bolonha.

A Praça Batista Campos, o Museu do Estado de Pará (MEP), o Teatro da Paz e a Praça da República são outros exemplos da ambição em transformar Belém numa Paris.

Um toque de Art Nouveau:

A grande característica desse estilo é a linha, sempre com movimentos leves que lembram o vento.

É muito marcante a relação desse movimento artístico com a natureza. Ele retrata muito motivos florais (rosas, folhas e rebentos), ou do reino animal (borboletas e libélulas).

foto JaMBa, Nunez e Paroara(interior do palacete bolonha banheiro decorado)

Possui como principal elemento o ferro torcido e o vidro, que poderão, com a industrialização, ser moldados e produzidos em série. Todo esse patrimônio arquitetônico trava uma antiga luta pela conservação e restauração.

foto Luciana Cativo (mercado de carne do Ver-o-Peso escadaria em ferro torcido)

Da Europa ao século XXI:

O centro histórico de Belém possui cerca de sete mil imóveis e conjuntos urbanos distribuídos em todo o centro e no entorno, aponta a Fundação Cultural do Município de Belém (Fumbel). Deste conjunto, mais da metade já foi descaracterizado e outros imóveis foram demolidos.

O alto custo para conservação e a falta de incentivos por parte do município são apontados como os grandes vilões.

Uma pesquisa publicada neste mês pelos professores Thais Caminha Sanjad e Marcondes Lima da Costa, da Universidade Federal do Pará (UFPA), analisou um elemento que a cada dia desaparece e sofre a ação do tempo: os azulejos de fachadas.

Os dois professores estudaram 19 tipos de azulejos, dos quase 300 que compõem o acervo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFPA, e constataram pelo menos três origens diferentes dos azulejos: Portugal, Alemanha e França.

foto Amanda Pinto (azulejos do centro histórico de Belém em detalhes)

A pesquisa alerta: precisamos conscientizar a população, donos de imóveis e principalmente governantes para a importância histórica e cultural do nosso patrimônio arquitetônico. Configura crime ver um enorme potencial turístico como este desaparecer.


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